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O Centenário de um Estadista*

O Centenário de um Estadista*

Por William Haverly Martins**

 

 

 

 

 

Rondônia deve a sua estruturação municipal à geopolítica de integração nacional, adotada pelo Exército Brasileiro, representado por expoentes nacionais e regionais, ao longo de mais de cem anos de história, produzindo, dessa forma, condições políticas locais para a apropriação econômica do espaço, ocupando a fronteira e contribuindo para o consequente surgimento de mais um estado na federação brasileira. Contudo, nenhum militar foi mais decisivo, nenhum antecedente encarou a gestão pública como Missão de Vida, nenhum foi mais estadista do que o Coronel Jorge Teixeira de Oliveirao fundador da Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia – Glomaron!

Teixeirão, como era carinhosamente conhecido, devido ao porte físico, nasceu na pequena cidade de General Câmara-RS, em 1º de junho de 1921, se estivesse vivo completaria, agora, cem anos de vida. Em 1966, já oficial do Exército, instalou e comandou, em Manaus, o Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS, denominado em 1999, pelo EB, de Centro Coronel Jorge Teixeira de Oliveira; em seguida fundou o Colégio Militar de Manaus e, após dar baixa do EB, com a patente de coronel, assumiu a prefeitura da capital do Amazonas, nomeado que fora, pelo governador Henock da Silva Reis, em abril de1975, completando o seu mandato em 1979, literalmente nos braços do povo, devido ao sucesso da sua administração. Teixeirão não escondia de ninguém a sua vontade de governar o estado do Amazonas, Mas…

No estertor de março de 1979, ele recebeu um telefonema do ministro Mário Andreazza, dando-lhe conta de uma nova missão, desta vez ele iria governar o T. F. de Rondônia, porquanto o Presidente da República, general João Batista de Oliveira Figueiredo, pretendia extinguir aquele território e criar mais um estado federativo. Morria ali o sonho de governar o Amazonas, nascia uma nova empatia, dessa vez com o povo de Rondônia. “Aída, minha querida, nós vamos pra Rondônia, uma nova missão nos espera”.

Em 10 de abril de 1979, o coronel Jorge Teixeira de Oliveira tomou posse, como Governador do Território Federal de Rondônia. Mais uma tarefa encarada como missão, desta vez a ordem era dar continuidade ao trabalho do coronel que o antecedera no governo, ultimando os preparativos para a instalação de mais um estado, mais uma unidade na federação brasileira. Ele sabia que o trabalho seria intenso, mas não era homem de desanimar. “Aqueles que trabalharão comigo terão que rezar pela mesma cartilha – Trabalho, trabalho e trabalho. Vamos todos em frente que nosso objetivo é um só: o Estado de Rondônia!”

Foram quase três anos de trabalho intenso, deixando marcas por onde passava, repercutindo a imagem de administrador competente, construída em Manaus, até que em 16 de dezembro de 1981 o Estado foi criado. Em 29 do mesmo mês e ano, foi reempossado, agora em Brasília, para o cargo de governador nomeado do Estado de Rondônia. A instalação do novo Estado ocorreu em 04 de janeiro de 1982, em solenidade pública, com a presença de autoridades federais, nas escadarias do Palácio do Governo, na Praça Getúlio Vargas, com a distribuição de cópias da bandeira e CDs com o hino Céus de Rondônia.

Foi Teixeirão quem instalou o TJ (Tribunal de Justiça) e o MP (Ministério Público), além de ter comandado as primeiras eleições para formação da Assembleia Legislativa, formando assim os três poderes do Estado de Rondônia: Executivo, Judiciário e Legislativo. Quando ele deixou o governo, Rondônia contava com 15 municípios: Porto Velho, Guajará Mirim, Ariquemes, Jaru, Ouro Preto, Ji-Paraná, Cacoal, Espigão do Oeste, Pimenta Bueno, Vilhena, Costa Marques, Colorado do Oeste, Presidente Médici, Rolim de Moura e Cerejeiras.

Assim que assumiu o governo revolucionou a agricultura e a pecuária com a implantação dos projetos de colonização do Incra, ajudando no estabelecimento de uma fronteira agrícola estratégica. Com ajuda do Polonoroeste e do Banco Mundial, asfaltou a BR 364, criou o Banco do Estado de Rondônia e a Companhia de Mineração de Rondônia; construiu o Hospital de Base Ary Pinheiro; iniciou a construção da Hidrelétrica de Samuel, no Rio Jamari, e fez força junto ao MEC para que fosse instalada em Rondônia uma Universidade Federal – UNIR, em 08 de junho de 1982. Seriam necessárias muitas laudas para enumerar os feitos de Teixeirão, um homem chamado trabalho.

Ele deixou o governo ovacionado pela maioria e apedrejado por uns poucos desafetos, radicalistas cegos, políticos inescrupulosos que, mesmo saboreando, não enxergavam os frutos consumidos. Jorge Teixeira governou o Estado até 1985 e faleceu dois anos depois de deixar o governo, em 28 de janeiro de 1987, devido a um câncer ósseo. D. Aída, sua querida esposa, faleceu em 28 de maio de 2020. Confesso que até hoje não aprendi a conviver com políticos, talvez por minha formação. Além do mais eu acho que já cumpri a missão.

Os tempos de hoje certamente não acomodariam as “missões políticas teixeiranas”. Não haveria espaço para ele se locomover, no jogo viciado da democracia contemporânea. Os conchavos pelo poder, a título de governabilidade, alinhavados com ajuda de uma complexa ideologia multipartidária, em que honestidade e decência são valores inexpressivos, não seriam assimilados por quem cumpriu dois mandatos, com poderes plenos, gerenciando milhões, sem órgãos fiscalizadores, sem Tribunal de Contas e morreu pobre.

Jorge Teixeira de Oliveira, o Teixeirão, foi o último governador do Território Federal de Rondônia, o primeiro a governar o novo Estado e o único a permanecer na memória do povo rondoniense, como exemplo de estadistao que pensa nas próximas gerações e não nas próximas eleições.

* Excertos do livro: Teixeirão – um estadista a serviço de Rondônia de WHM

** Professor, escritor e atual presidente da Academia Rondoniense de Letras ARL

 

 

FONTE:RONDONIALEMDAHISTORIA.

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